SOZINHA

Andava nas ruas, sentindo uma presença, ainda que em ausência física.
Cada passo marcado pela possibilidade de "estar", 
ciente de que o "estar" não aconteceria. 
Andava pensando em como seria apresentar este novo cenário. 
Quais os comentários que ouviria, caso a presença ali estivesse.
Olhava a mesma paisagem sobre um novo ângulo.
Tentando quem sabe ver com um olhar distinto
aquilo que tanto agradara as suas vistas.
Mas as vistas já não viam mais grande agrado no que presenciara. 
Faltava o "estar". O outro.
Algo em pedaços, estilhaçado, se anunciava 
sem que fosse apresentado formalmente.
Era o presente ausente de um "ser". 
E os tons de verde, perdiam a majestade que outrora lhe parecia ter.
Andava e via em sua volta sorrisos, abraços e cochichos partilhados. 
E nada tinha ao seu lado.
Nem a possibilidade de uma mão que viesse ao encontro da sua, 
roçando serenamente para afastar-se logo após a iniciativa.
Nem um olhar furtivo, mas profundo, lhe dizendo no fundo 
que sua presença é a companhia mais distinta entre tantos na multidão. 
Nenhuma presença que desse mais vida aquele momento.
Andava descrente de seu sentimento, daquela solidão que lhe causara vertigem.
Andava vasculhando escombros em si 
onde a presença se anunciasse, amenizando a solidão.
Que nada. Andava e desistia da empreitada de admirar algo.
Não podia admirar nada com este sentimento alfinetando-lhe as vistas. 
A emoção perdida naquela ausência ao seu lado. 
Era um estado errado de estar em algum lugar.
Sem uma companhia a lhe acompanhar.
Então andava querendo mesmo era não andar. 
Não naqueles caminhos conhecidos, repletos de ninguém.
Andava buscando alguém que sabia não estar ali. Andava tentando se distrair. 
Mas que distração conseguirira, quando lhe faltava a companhia ao lado. 
E mesmo tendo alguém em si. Andava desacompanhada.
Andava ao encontro de alguém que não se avistava, 
pois sozinha e bem sozinha é que se encontrava.


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