DEIXAR PARTIR (DESABAFO)

Devo lhe deixar ir, mas a dor é estranha e não estou conseguindo.
Há muito já não mantínhamos contato. 
E a lembrança que trago desconhece esta face inerte.
O que me prende a ti foram as palavras não ditas,
 foi o conforto não dado e a mensagem não entregue.
Pois depois de tudo, simplesmente cortaram-se os laços.
Vivemos por anos como cunhadas, amigas, irmãs...
Partilhamos juntas tantas dores e dissabores, e sim, muitos risos e alegrias.
Esteve tão presente em minha vida, mas quando saiu dela, deixei-a ir de vez.
Pontuei que assim querias. Que seria o melhor a fazer.
E nas poucas vezes em que nos reencontramos, sempre me silenciei.
Esperei ouvir de ti, palavras que eu queria lhe dizer.
Agora não haverá mais a oportunidade.
Não terei novamente a chance de te olhar nos olhos.
De lhe ver sorrir. Segurar sua mãos.
Demonstrar-lhe que a sua separação com o meu irmão
não deveria ter significado a nossa.
Que ainda lhe guardo comigo, como uma pessoa querida.
Que todo o carinho existente, nunca deixou de existir.
Tínhamos a mesma doença, e você nada sentia
Nunca teve uma crise de Anemia Falciforme
E quantas foram as vezes que acompanhou as minhas
Que segurou minhas mãos e me fez sorrir no leito
Mas eu não estive presente quando descobriu as mesmas dores em si.
É estranho como os caminhos que traçamos, as escolhas que fazemos
podem ou não pesar em nossas consciências, em nossos corações
Hoje você partiu Luciene e eu me encontro aqui, sem saber como lidar com
esta perda que já existia, sem que dela eu me desse conta realmente
Deixei-a  partir bem antes que esta morte física
E agora que deveria deixá-la mesmo ir, fico me apegando ao que não houve
para que você não se vá de vez.
E tudo o que eu não lhe disse, sufoca em pranto na garganta
E as lágrimas não param de rolar
Devo deixar-lhe ir, mas meu coração se aperta por tudo o que ficou pendente em mim.
Mas sei bem que são minhas essas pendências.
Sei que este pranto incontido não faz muito sentido.
É que só agora, me dei conta de que fui mesquinha e egoísta demais.
Devo deixar-lhe partir, e espero que encontre a paz!





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