AQUELA FLOR



A casa nem sempre parecia-lhe um lar. Não. Às vezes era um lugar estranho, onde não se encontrava, não se encaixava. Tudo parecia-lhe escuro. E um cheiro de mofo que sobrevinha às suas narinas lhe alertava de que faltava algo. Mas a pergunta era: será que faltava algo em sua casa, ou em sua vida?
Não sabia responder. Ou não quisesse ouvir a resposta.
Os dias sempre iguais e os cantos empoeirados da casa lhe causava nauseas. Por mais que ela zelasse pela casa, a poeira espreitava pelos cantos. E a umidade se alastrava como erva daninha na plantação. Um dia percebera que a casa era fria demais, escura na mesma proporção e parecia-lhe sem vida alguma. Um lugar qualquer inabitável. Mas ela morava ali. Saia todos os dias para o seu trabalho e retornava, na esperança talvez de que poderia abrir as portas e encontrar algo novo. E por mais que esperasse por isso, o que encontrava era sempre o mesmo ambiente insólito e uma vontade de não mais retornar.
Até que o milagre aconteceu. Ou será que ela resolveu ouvir a resposta. Bem, não se sabe ao certo. Mas naquele dia tudo foi diferente, e dali em diante tudo mudou.
Acordou como todos os outros dias. Na mesma cama, naquele quarto escuro, na sua casa inóspita.
Mas foi de uma forma distinta que se levantou. Ficou um tempo ali, sentada na cama, antes de realmente se levantar. Parada, fixava o nada e trazia no rosto um novo semblante. Algo despertara ali, além do sono.
Após um aparente costumeiro café da manhã, saiu para o trabalho. Não notara que assobiava pelos espaços da casa, mas a casa registrara nas memórias das paredes, cena que nunca presenciara ao longo dos anos que a acolhia ali. 
Passou o dia cantarolando, numa alegria tão espontânea que nem se deu conta que distoava do seu habitual.
Ao retornar para casa resolveu comprar um vaso que avistou na vitrine de uma loja. Um lindo vaso de vidro com várias nuances de azul em craquele. Ao entrar em casa espantou-se com a visão. A casa tinha um outro aspecto. Não, certamente não era a mesma casa de outros dias. Sacudindo a cabeça como para afugentar alguns pensamentos que lhe vinham, dirigiu-se até a mesa e colocou ali o vaso. Mas faltava-lhe algo. Sim como não pensou nisso antes. Flores. Faltava-lhe flores.
Após a limpeza habitual do lar que sempre fazia, resolveu abrir as janelas. E a casa iluminou-se novamente, agora pela luz do sol que adentrava no espaço e afugentava a escuridão. Saiu para a àrea externa e parou diante da coisa mais bela e simples que seus olhos poderiam contemplar, ali, em seu quintal. Como se tivesse sido colocada propositalmente, uma linda planta florida lhe sorria. Mas como, ela se perguntava, se nunca havia plantado nada ali. 
Ficou ali, admirando o simples, o belo, o novo. E a novidade foi regada com carinho e cuidado. Como quem ganhasse um presente precioso, ela agradeceu em reverência a planta. E com suavidade lhe cortou uma flor. Esta colou no vaso da sala. Uma linda flor branca enfeitando o vaso azul. E a casa, como ela, sorria com a simplicidade dos fatos.
E pela primeira vez não sentiu o cheiro de mofo no ar, nem percebeu-se oprimida pela umidade e escuridão. Entrava na casa nova, todos os dias, com um novo olhar e um sorriso no rosto. Já não se sentia num lugar estranho. E lentamente, foi notando que a casa ganhava vida : a sua própria!

Comentários

Keli disse…
Amiga...mesmo de longe presencio suas alegrias, dores, descaminhos e alegria de novo de fazer e refazer seus novos caminhos!
Estou na correria, mas não distante de vc...

beijão,

Keli
Aline disse…
Oi ale!
To com saudades!
As vezes ,muitas vezes entramos nessa mesma casa!
Mas o bom é que a esperança sempre nos acompanha ,mesmo quando a notamos!
Um beijo!
Sinto sua falta viu!
Aline
Manoel disse…
Olá Alessandra. Legal que de alguma forma voce chegou aqui, valeu o comentário e sim a AYO é sensacional!

O link ta on novamente! Pode baixar lá!

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