DAQUILO QUE NÃO SEI DIZER ou QUANDO CRIANÇA



Gostava, quando criança, de olhar pela janela 
e imaginar que voaria o mundo... e voava
Passava horas debruçada, viajando em pensamentos, 
em lugares belos, paisagens lindas
um mundo distinto da vida que eu levava... 
distante de pais, amigos, escola, hospital...
um mundo sem família, 
onde todos se valorizavam não pelo parentesco, 
mas por partilharem
o mesmo espaço, um espaço rico de tudo, 
repleto de amor, cheio de paz... de vida
Caminho hoje pelas ruas e tento reter no corpo 
a emoção que aquela criança sentia quando viajava
Olho agora pela janela e tento fechar os olhos 
e ver as imagens belas de outrora
Debruço-me sobre ela e tento voar um pouco 
para fora de tudo o que me impus
e nada... nada consigo... não consigo voar...
A mente não se silencia como fazia antigamente
Uma sirene estridente causa este transtorno interno
É tanta inquietação mental, 
tanto "e se", tanto "será", tanto "quem sabe"... tantos "porquês"
Aquela criança que eu fui, hoje queria um espaço e não obteve
Queria voar pela janela, mas nela encontrou grades... 
prisão que lhe deteve o impulso
Que lhe cortou as asas, que lhe sugou os sonhos, que lhe furou os olhos
Aquela criança que um dia eu fui queria estar presente e assim me presentear
com a tranquilidade de quem desconhece os medos e as limitações
Queria o regaço de um solo conhecido,
onde a terra e a alegria por nela laborar fizesse sentido
Queria um sorriso sincero de alguém que se importasse 
com coisas das quais não saiba dizer
coisas que pouco importam aos que vivem no mundo 
pela sequência dos afazeres
quereres, deveres... de quem necessita fazer, ter... 
mas nem sempre sabe pra que.
Queria calar o murmúrio e alarido que eu carrego comigo, 
fazer-me um agrado
mostrar o outro lado que há muito deixei para trás...
Aquela criança queria tirar-me às vendas, desatar-me os laços, 
as amarras de estar presa a pensamentos
desconexos, que tanto mal provoca nesta mente atordoada...
Queria dizer seus versos e segurar-me pelas mãos 
para alçar comigo o voo que eu esqueci como fazer
Andei hoje pelas ruas com aquela criança ao lado, 
provocando-me o olhar, as sensações...
Voltei para casa com uma sensação estranha de que aquela criança,
embora pouco tenha conseguido,
esteja aqui comigo, sentada ao meu lado, 
tirando-me do caos e brincando com minhas palavras,
rindo deste desatino que tenho de levar tudo muito a sério 
e me fazendo voar aqui neste momento
enquanto escrevo sobre essas coisas que  não sei dizer,
sobre esta sensação estranha de estar aqui, sem aqui querer estar.






Comentários

Aline disse…
Amiga
Bom dia!
Todos nós temos essa criança, que anda insegura, que não tem maldade, que busca amor, que quer seu mimo de direito!
O que acontece é que fisicamente crescemos e aí as coisas complicam as pessoas esquecem que o fisco cresce ,mas para Deus somo pequenos assim como uma criança, que quando cai chora pede colo e descansa!
Beijos de esperança!
Aline

Ah! eu também sou essa criança que cresceu apenas fisicamente !

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